Eu estava no Shopping Dom Pedro, aqui de Campinas, e fui comer alguma coisa no Taco Bell. Pedi um combo de Crunchwrap Supreme com batatas e Coca-Cola. Dentro da loja não havia lugar para me sentar, então fui até o salão da praça de alimentação.
Peguei uma mesinha, sentei e comecei a devorar o meu lanche. Quando eu estava na terceira mordida, um homem que eu nunca tinha visto antes se aproximou. Era alto, calvo, usava uma barba. Ele fixou o olhar em mim, veio direto até minha mesa e perguntou à queima roupa:
– Você não é o José Eduardo Marcondes?
Ainda mastigando, com os olhos arregalados, assenti com a cabeça. Ele então prosseguiu:
– Rapaz, eu adoro suas postagens no Facebook. Você está ficando cada dia melhor. Sabe, o Fernando Sabino disse numa crônica que o escritor é um cara que passa a vida toda conversando sozinho – mas o bom mesmo é que a conversa vai ficando cada vez melhor à medida que o tempo passa…
Tomei um susto – eu tenho esse texto do Sabino publicado no meu blog! O cara continuou:
– Puxa, no dia internacional das mulheres, anteontem, você fez um texto em homenagem às bravas mulheres da sua vida – e aquilo foi lindo, cara… gostei da sensibilidade!
A essa altura eu já não conseguia mais comer meu lanche, embora estivesse sem reação e mudo. Nada faria meu inusitado seguidor parar de falar:
– E aquele dia que você, despretensiosamente, escreveu um texto sobre levar uma criança de dois anos e meio ao banheiro? Nossa, aquele texto foi parar no site do Programa Papo de Mãe, hein? Saiu na capa do portal do Estadão… foi um marco da sua vida de cronista amador. Mas bem que você deveria publicar um livro, fica a dica
Eu não respondia nada, estava muito espantado – e minha cabeça se enchia de perguntas: Quem era aquele sujeito? Como ele sabia tanto sobre mim? Como me encontrou naquele shopping?
Ao invés de ficar embevecido por encontrar um fã, comecei a ficar meio desconfiado… afinal, nem minha própria mãe observa tanto minhas postagens… seria um stalker?
mas ele prosseguia falando sobre mim com muito entusiasmo:
– Olha, eu observei bem e sei que você estabeleceu uma verdadeira linha editorial no seu Facebook. E está dando muito certo. As pessoas deveriam escrever coisas leves no Facebook. É o que eu acho! Você sempre diz que seu humor é leve, mais na linha do Fernando Sabino, mas acho que você tá mais pra Rubem Braga – quem sabe até um dia chegue a um Luiz Fernando Veríssimo…
Dessa vez eu o interrompi: “imagine, eu não tenho a pretensão de…”
Mas o homem me interrompeu: “Dia desses você até fez uma brincadeira dizendo que estava postando uma poesia para evitar entrar em assuntos polêmicos. Nos tempos modernos tem tanta gente querendo entrar nas polêmicas e você resolveu pular fora delas. É preciso muita determinação pra conseguir isso nos dias de hoje.
Pensei comigo mesmo: “caraca, o cara observou até os detalhes mais minuciosos”. Não aguentando mais de curiosidade, perguntei ao sujeito: “Como é o seu nome?”
Ele respondeu: “Meu nome é Paulo Giardino”
Nessa hora me acendeu uma luz… o nome dele não me era estranho, mas também… discretamente puxei o celular e comecei a procurar por Paulo Giardino na minha lista de amigos do Facebook… afinal, o meu perfil é bloqueado para quem não é meu amigo… ele tinha que aparecer em algum lugar. Mas eu não o encontrava em canto algum. Enquanto eu buscava uma resposta, Paulo continuou com suas frases cheias de entusiasmo:
– “Poxa, Edu, você é um cara que está evoluindo muito – se lembra quando você trabalhou de repórter naquela emissora de televisão que uma editora falou pra você tomar cuidado com as postagens que fazia no Facebook? Poxa, cara, se você tivesse essa linha editorial de agora já naquela época, jamais teria passado por isso”
Quase caí pra trás – eu nunca postei essa história em canto nenhum, esse cara não poderia ser apenas um seguidor do Facebook. Agora ele estava falando um detalhe que eu só contei pra… só contei pra… pra… Já com a voz trêmula eu lancei: “Mas, afinal, quem é você?”
O sujeito riu e, de repente, tirou uma máscara que estava usando. Foi só então que eu o reconheci: era Saulo Jardim, meu psicólogo.
Nos abraçamos imediatamente e choramos juntos. Foi lindo.
True Story